terça-feira, 26 de janeiro de 2016

CONSUTÓRIO AGRÍCOLA

CONSULTÓRIO AGRÍCOLA



O conhecimento sobre o meio natural e agrícola onde nos movemos e no qual interferimos diariamente evoluiu rapidamente nos últimos anos e, infelizmente, mantém-se fora das universidades portuguesas, não existindo neste momento curso ou mestrado que permita aprender verdadeiramente o que é a agricultura biológica. Também a certificação  apenas assegura a não utilização de produtos não autorizados pelo Regulamento Europeu para a Agricultura Biológica. 

Nenhum destes mecanismos garante que seja feita agricultura biológica em harmonia com a natureza, como seria o seu espírito original. 

Consideramos que este conhecimento novo, esta forma simbiótica de entendimento, é vital para reencontrarmos o equilíbrio neste mundo ao qual pertencemos.

Fizemos um longo caminho, desde que começámos a fazer agricultura biológica, em 2006, e mais ainda desde 2000, ano de conclusão da licenciatura em Engenharia Agronómica. Aprofundámos com seriedade o conhecimento desta agricultura feita em simbiose com a natureza. Aprendermos com alguns dos visionários e divulgadores desta nova agricultura orgânica e regenerativa: Jairo Restrepo, Kirk Gadzia, Darren Doherty, Owen Hablutzel. Comprámos livros recentes (e lemos livros antigos) que revelam outras formas de olhar e actuar. 

Nos últimos anos, muitas foram as pessoas que nos contactaram, pessoalmente, por telefone ou por email, pedindo informações e ajuda para diversas situações.

Porque queremos que a disseminação do conhecimento se faça rapidamente e sem impedimentos, decidimos tornar este espaço público, para esclarecimento de dúvidas e informação. 

Para esclarecimento de questões práticas ligadas à agricultura e gestão dos solos e da água, basta escrever um email para diasnasarvores@gmail.com, descrevendo qual o assunto. A resposta será feita por email e, eventualmente, publicada aqui (sem identificação do autor da questão). 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A FORMAÇÃO DE UM POMAR

Pensando num pomar de árvores plantadas (árvores de viveiro, não semeadas no local)...

Geralmente são árvores enxertadas, isto é, feitas de duas ou mais plantas, "coladas". Primeiro é reproduzido o porta-enxerto, de semente ou de estaca. Este é escolhido pelas características do seu sistema radicular, a sua capacidade de adaptação ao solo, e/ou resistência a doenças. Depois, é enxertada a variedade pretendida (escolhida pelas características dos seus frutos), introduzindo o seu material vegetativo (ramo) na madeira do porta-enxerto (por baixo).



Ficamos assim com uma árvore, que na realidade são duas coladas! Depois do ramo enxertado ter criado um ramo novo, podem plantar-se as árvores.

Como exemplo, macieiras e pereiras são muitas vezes enxertadas em marmeleiro ou em pereira brava, os pessegueiros podem ser de semente ou enxertados em ameixeira. Há também porta-enxertos adaptados a determinadas características de solo ou resistentes a algumas doenças, como o M111 e o M106, para a macieira, por exemplo.


Árvores plantadas de "raiz nua"

As árvores de folha caduca podem plantar-se de raiz nua. Ou seja, durante o Inverno, em época de dormência, são arrancadas do chão do viveiro para virem a ser plantadas no local definitivo, no pomar.








Não trazem terra nem torrão. Isto significa que uma parte importante das raízes fica no solo, no local onde cresceu inicialmente o porta-enxerto e que se produzem lesões no local onde as raízes partiram. Este tipo de plantação é, no entanto, vantajoso porque permite uma melhor adaptação das raízes da árvore ao local onde é plantada, porque é estimulada a criar novas raízes no novo local.






Primeiros cuidados: ter sempre as árvores hidratadas e ao abrigo da luz, principalmente as raízes. As raízes foram criadas debaixo de solo onde não é suposto entrarem em contacto com a luz do sol, que lhes é prejudicial, por isso há que protegê-las da luz solar, de preferência cobrido-as com um saco de serapilheira. Antes da plantação, deve olhar-se bem para o estado das raízes, e, para além de se cortar todas as que estejam partidas, deve-se também cortar as pontas das restantes. Isto porque cada um destes cortes limpos vai sarar muito mais rapidamente do que uma lesão irregular, e também porque vai estimular o crescimento de novas raízes a partir desses tecidos.






De seguida, é aconselhável mergulhar as raízes numa solução que ajude a cicatrizar e a inocular com a microbiologia certa. Pode-se usar uma mistura de terra argilosa, bosta de vaca (de preferência fresca porque tem mais microrganismos benéficos) e chá de cavalinha, onde se mergulham as raízes e depois se deixam secar à sombra, de preferência com umas sacas ou panos por cima, para não desidratarem com o vento ou sol.






Plantação:

Durante o Outono/Inverno pode ser feita a plantação destas árvores de raiz nua, de preferência quando não haja geada. Na altura da plantação, é aconselhável misturar um preparado de micorrizas no solo junto às raízes. Estas micorrizas são fungos simbióticos, que vão interagir com as raízes, fornecendo-lhes vários nutrientes essenciais e, em maior quantidade, água e fósforo, principalmente em solos com baixas quantidades neste elemento (quase todos). Na natureza, as sementes que caem ao solo são inoculadas naturalmente durante a sua germinação. As raízes destas árvores que plantamos não trazem estas relações simbióticas de origem e, sendo este sistema de criação de um pomar, ou floresta de alimentos, um processo não natural, precisa de alguma ajuda para se naturalizar o mais rapidamente possível. As micorrizas são aplicadas geralmente como um pó ao solo junto às raízes. No caso de plantas em vaso, mergulham-se os vasos numa solução com micorrizas.




Profundidade de plantação


A árvore tem uma parte aérea, que gosta e precisa de sol e arejamento e uma parte radicular que não deve receber sol e teme a desidratação. Na fronteira entre ambas, exactamente onde termina a raíz e se inicia o tronco, existe uma zona chamada colo da planta. 


Esta zona é crucial na plantação e é muito sensível a doenças causadas por excesso de humidade. Esta é a zona que deve ficar imediatamente acima do solo, tendo o cuidado de enterrar bem as raízes. Geralmente deve-se plantar num montículo um pouco acima da superfície do solo, porque após a plantação a terra tem tendência a compactar novamente e, se não tivermos tido o cuidado de plantar mais alto, o que pode suceder é que a nossa árvore acabe por ficar numa cova, que encharca e as raízes podem morrer por falta de oxigenação.






No momento da plantação convém que o ponto de enxertia fique virado para sul. Este ponto representa a ligação entre o porta-enxerto e a árvore. Sendo uma lesão cicatrizada é sempre um local sujeito a problemas de fungos em caso de acumulação de humidade. Em locais ventosos é importante prender a árvore com um tutor, no momento da plantação para evitar que a árvore se parta no ponto de enxertia, o seu ponto mais frágil. Após a plantação, deve colocar-se à volta da árvore palha, folhas secas ou outro material de cobertura de solo, deixando, junto ao tronco, uma abertura de cerca de 10 centímetros, para não acumular humidades junto ao colo. A palhagem é importante por variados motivos, dos quais realçamos a estabilização da temperatura do solo junto às raízes, a protecção do impacto das gotas da chuva que criam uma crosta superficial no solo impedindo a respiração por parte das raízes e microrganismos, e ainda a protecção dos organismos do solo e das raízes relativamente à radiação solar, que lhes é nociva. Na natureza todos os solos têm uma camada vegetal de cobertura.







Árvores plantadas com torrão, vaso, etc.

Há fruteiras que são adquiridas em vaso. É o caso da generalidade das árvores de folha persistente, como os citrinos, mas também pode ser feito com árvores de folha caduca. Se houver possibilidade de rega, podem ser plantadas em qualquer época do ano.
Estas árvores vêm com a raiz protegida, envolta em substrato, em vaso ou em sacos de plástico pretos. A raíz deve ser observada cuidadosamente. Se estiver enrolada, significa que passou tempo demais nesse vaso e deve ser desenrolada com cuidado ou cortada na zona imediatamente antes do enrolamento. Uma árvore plantada com uma raiz enrolada nunca a irá desenrolar, independentemente dos anos que viva. Por vezes, uma árvore plantada desta forma vive alguns anos e depois morre repentinamente sem qualquer razão aparente. Isto acontece no momento em que a raíz se estrangula a si própria. Por vezes, é simplesmente uma árvore fraca, que se desenvolve pouco porque não se consegue alimentar devidamente, e que é muito atacada por insectos. Grande parte dos problemas fitossanitários que podemos encontrar num pomar explicam-se por problemas nas raízes das árvores ou do solo.
Em geral estas árvores têm mais dificuldade em expandir as raízes em solo novo, principalmente se este for de fraca qualidade.


Após a plantação

Poda

A partir da Primavera, a rebentação das árvores é cuidadosamente observada. Lembremo-nos que as raízes foram cortadas e ainda não tiveram oportunidade de se recompor, o que significa que pode não haver alimento para todos os ramos e folhas que a árvore (no ano anterior, quando ainda tinha todo o seu sistema radicular intacto) pensou que poderia alimentar, enviando mensagens (químicas) aos seus gomos para essa finalidade. Isto significa que, numa árvore recém plantada temos sempre mais gomos aptos para desenvolver ramos e folhas do que aqueles que as suas raízes podem alimentar. Neste caso, se a rebentação for muito vigorosa, teremos de intervir de imediato, quer cortando pequenos pedaços de madeira, quer eliminando raminhos que iniciam o seu desenvolvimento. Mais tarde, poderemos ainda fazer uma desponta, ou seja, cortamos a extremidade (gomo apical) em ramos verdes que não queremos que se alonguem. O ramo pára de crescer e a árvore investe a sua energia nas raízes e na produção de frutos. Numa poda que se quer de reequilíbrio e de adaptação ao local onde as árvores foram plantadas, é dada uma atenção fundamental às.... raízes. As raízes das árvores estão directamente ligadas aos seus ramos. Ou seja, quando uma raiz morre, morre também o ramo directamente afectado, e vice-versa, ou seja, se cortamos um ramo, morre a raiz a ele ligada. Mais especificamente, quando cortamos o ramo central, vertical de uma árvore, estamos a cortar a raíz profundante principal. Pelo que foi exposto acima se compreende que a zona mais fragilizada da árvore nesta altura é o sistema radicular. Se queremos que ele se desenvolva amplamente, não poderemos exagerar na madeira cortada de uma só vez. Assim, a poda de formação permacultural deve ser feita, preferencialmente, três a quatro vezes num ano, em várias época, dando "toques" à árvore, de acordo com o seu desempenho e resposta.


Ramos ladrões (que rebentam abaixo da zona de enxertia, ou seja, a partir da planta porta-enxerto) são eliminados prontamente, quanto mais cedo melhor, e o corte deve ser limpo e o mais junto ao tronco principal possível, para evitar novo rebento no local. Atenção, que estes rebentos ladrões vão surgindo sempre ao longo de toda a época de desenvolvimento vegetativo da árvore. A razão pela qual é tão importante a sua eliminação, é que estes provêm da árvore que tem as raízes na terra, ou seja, esta planta prefere desenvolver os seus próprios ramos em vez dos ramos da outra que lhe foi imposta (enxertada). Mas nós queremos os frutos da variedade enxertada (melhorada para os frutos que pretendemos), pelo que temos de dirigir a sua energia para esta. Se deixarmos crescer os ramos ladrões, o que irá suceder é o definhamento da árvore enxertada e o fortalecimento da árvore porta-enxerto.



Infestantes ou cobertura do solo?

Deveremos manter consciente que as ervas da entrelinha estão a contribuir para trazer fertilidade ao nosso solo e às nossas plantas. Na linha de plantação, por outro lado, já terá de ser avaliado caso a caso. Como foi referido acima, deve ser feito empalhamento à volta das árvores, com um raio de cerca de um metro. Isto permite, para além das vantagens referidas, evitar o crescimento de infestantes junto às raízes das árvores recém-plantadas. As espécies e variedades de fruteiras muito vigorosas, geralmente no segundo ano já não temem as infestantes e basta cortar as herbáceas e deixar por cima a cobrir o solo. Na entrelinha, o solo deve manter-se coberto, sempre. Por vezes são efectuadas sementeiras para sideração, ou seja, semeiam-se plantas com características melhoradoras e/ou fertilizantes, que depois são enterradas ou apenas cortadas (melhor). Este processo tem a grande vantagem de aumentar rapidamente a actividade biológica do solo, principalmente em solos que foram cultivados com uso de pesticidas e adubos químicos. Tem, no entanto, desvantagens na erosão, formação de crosta superficial no solo e num aumento súbito da biologia microbiana do solo que pode não ser sustentada num segundo momento.

A nutrição está debatida num outro post.








Nutrição das plantas e qualidade do solo do pomar

As plantas alimentam-se principalmente através da fotossíntese. Se formos analisar a matéria vegetal em termos químicos, encontramos maioritariamente na sua composição oxigénio (60-70%), carbono (10-18%) e hidrogénio (5-10%), que a planta fixa através da fotossíntese. No entanto, para os processos de fixação destes elementos e para outras funções, são necessários outros elementos minerais.

Em segundo lugar, a planta alimenta-se através das raízes, no solo. A planta absorve maioritariamente elementos minerais mas, para os absorver necessita que estejam dissolvidos na chamada solução do solo (um caldo feito de água e nutrientes dissolvidos). Esta solução nutritiva depende das características químicas, físicas e biológicas do solo, para além da disponibilidade de água. A riqueza química das partículas do solo é importante porque determina os nutrientes disponíveis para a os organismos do solo; as características físicas do solo determinam o espaço disponível para a solução nutritiva e para a respiração das raízes e dos organismos do solo; a biologia existente no solo determina a qualidade dos ciclos de nutrientes e a disponibilização destes para as plantas, e o estado de saúde das plantas.


No solo, as plantas alimentam-se absorvendo diversos elementos minerais, em diferentes quantidades mas com importância idêntica. Isto significa que tão importante é o azoto, fósforo e o potássio, pomposamente chamados de macronutrientes principais, como o cálcio, o magnésio e o enxofre, chamados macronutrientes secundários, como os humildes boro, molibdénio, cloro, ferro, manganês, zinco e cobre, chamados micronutrientes, ou ainda outros elementos designados como benéficos, e todos aqueles que (ainda) não mereceram sequer classificação agronómica, como as terras raras. A importância é a mesma, embora as quantidades necessárias sejam muito diferentes. Quando falta qualquer deles, fica comprometido o desempenho da planta. Resumindo, as plantas desenvolveram-se neste planeta, com todos os elementos químicos constituintes da crosta terrestre e com toda a biologia que nela existe. Uma nutrição adequada é uma nutrição global. Dito isto, vamos compartimentar, por razões práticas.


Em terceiro, as plantas alimentam-se também através das folhas, sendo possível através de pulverizações foliares corrigir deficiências de micronutrientes, ou fornecer nutrientes que aumentem a sua capacidade de resposta imunitária. É o caso, por exemplo, da pulverização com solução de algas marinhas, ou de chá de cavalinha.



Azoto

Elemento fundamental na formação do pomar. Entre os elementos minerais, está no grupo dos mais consumidos. Na matéria seca, representa 0,3 a 5% do total. É essencial na formação da clorofila, dos aminoácidos e proteínas e das nucleoproteínas (reprodução). Quando em falta, as folhas ficam amareladas, por falta de clorofila e não se desenvolvem os tecidos da planta. É essencial ao crescimento e à formação das árvores.

Na natureza, as contribuições de azoto provêm da decomposição das plantas (por exemplo, das herbáceas chamadas infestantes), das dejecções de animais (domésticos e selvagens) e da fixação a partir da atmosfera. Neste último caso, poderemos pensar em fixação simbiótica (por exemplo, a simbiose entre a bactéria Rhizobium e várias espécies de leguminosas, como o tremoço), fixação não simbiótica (diversas bactérias existentes no solo, dos géneros Clostridium, Azotobacter, Beijerinckia e Rhodospirillum, e algas verde-azuladas) e incorporação de azoto com a água das chuvas, principalmente de trovoadas. Este azoto é disponibilizado para as plantas directamente, ou através dos ciclos biológicos.


O azoto é solúvel em água, sendo por isso um potencial poluente das águas subterrâneas (nitratos).

Sendo essencial a sua aplicação, o seu excesso é muito prejudicial provocando, entre outros problemas, elevados ataques de afídeos (piolhos) e mosca branca. O seu fornecimento deve ser feito prioritariamente pela aplicação de composto bem compostado (a cheirar a terra). Este tem a vantagem de fornecer muitos outros nutrientes também essenciais ao desenvolvimento das plantas e, sobretudo, aumentar os ciclos biológicos do solo que são os responsáveis pela nutrição equilibrada. À plantação, na cova da árvore, deve ser aplicado um composto muito bem compostado, com muito pouco azoto na sua composição. No final do inverno, de preferência, um pouco antes da rebentação, deve ser aplicado um adubo orgânico mais rico em azoto (5-10%), junto ao solo, por baixo da palha junto à árvore.

Este nutriente pode também ser disponibilizado através de fertilizantes líquidos, sempre orgânicos e integrais (por exemplo, o resíduo da indústria da beterraba açucareira).

Há no mercado vários produtos, com mais ou menos azoto, em formas mais ou menos disponíveis para as plantas. Durante a formação das árvores é aconselhável fornecer quantidades razoáveis de azoto, variando com a espécie e variedade. Em agricultura biológica e permacultura é, no entanto, mais prejudicial o excesso do que a escassez. É melhor basear as quantidades a aplicar nas tabelas oficiais, aplicando apenas 50-60% do indicado. Em caso de excesso, ocorrerão fortes ataques de afídios (piolho) nos jovens rebentos das árvores, prejudicando gravemente o seu desenvolvimento. A fertilização deve ser também fraccionada, ou seja, a dose oficial indicada deve ser dividida, aplicando uma pequena quantidade de cada vez, começando antes do abrolhamento.

Pode também ser feita aplicação foliar com algas, como mencionado acima. Tem a vantagem de conter muitos outros micronutrientes, para além do azoto.



Fósforo

Absorvido em quantidades muito menores que o azoto (0,1 a 0,4%), mas essencial para o metabolismo das plantas (mecanismos de absorção dos nutrientes e síntese de lípidos). É um componente estrutural de vários compostos bioquímicos das plantas. É indispensável para o crescimento das raízes e também de folhas e ramos.

A adubação fosfatada deve ser feita antes da plantação e sempre com rocha fosfatada moída (fertigafsa). Todas as adubações minerais devem ser feitas com rochas moídas, porque é esta a forma que os microrganismos de solo estão preparados para digerir e integrar nos seus tecidos e ciclos, transformando os minerais em formas absorvíveis pelas plantas. A aplicação de fosfatos solúveis (como os superfosfatos) provoca diminuição da biologia do solo e inibe a relação simbiótica das micorrizas com as raízes das plantas, com efeitos negativos a vários níveis.


Em solos calcários, será sempre preferível fazer a aplicação de fósforo através de adubos orgânicos ricos neste elemento, porque o calcário reage com o fósforo mineral, originando compostos altamente insolúveis, indisponibilizando-o para as plantas. Com os adubos orgânicos ricos em fósforo, isso não acontece.



Potássio

É absorvido em grande quantidade (1 a 5%) e desempenha uma acção importante em vários mecanismos da planta: fotossíntese, resistência à secura, resistência a doenças e pragas, metabolismo dos glúcidos, do azoto e da síntese de proteínas, controlo da actividade de vários constituintes minerais, permite a manutenção do equilíbrio de pH da seiva das árvores, participa na activação de enzimas, promove o crescimento dos tecidos e aumenta a qualidade dos frutos.

Os solos têm geralmente algum potássio na sua constituição e este, como o fósforo, é tanto mais disponibilizado quanto melhor funcionarem os ciclos biológicos.

É geralmente fornecido sob a forma de rochas moídas, ou de cinza de lenha.


Cálcio e magnésio

O cálcio é geralmente um elemento esquecido, de forma irresponsável. Na realidade, nos laboratórios de química agrícola só o têm em consideração quando o pH do solo é muito baixo e é considerado adequado fazer uma calagem (adição de calcário para aumentar o pH do solo, quando este é ácido). Mas este elemento é absolutamente essencial para uma boa estrutura do solo (um solo bom é um solo que se esboroa) que, por sua vez, é essencial para uma boa nutrição das plantas e para uma microbiologia favorável do solo. É também essencial à microbiologia do solo e a macrorganismos, nomeadamente as minhocas. Nas plantas, as quantidades na matéria seca variam geralmente entre 0,5 e 3%. Faz parte de todas as células da planta, é essencial para a estabilidade das membranas celulares, no controlo da absorção de outros nutrientes, como o azoto, na translocação dos glúcidos dentro da planta, favorece o crescimento e divisão celular, etc. A sua deficiencia traduz-se no atrofiamento do crescimento das raízes e dos ramos novos.

O magnésio representa 0,1 a 0,5% da matéria seca das plantas. Sendo o único constituinte mineral da clorofila, é indispensável às plantas e a sua escassez reflecte-se na fotossíntese. Actua também de forma determinante na síntese de proteínas, determina a actividade de diversas enzimas e determina o teor em óleos essenciais das plantas.


A relação cálcio/magnésio no complexo de troca dos solos (um parâmetro das análises de solo) é também muito importante para a estrutura destes devendo ser sempre superior a 2.



Enxofre

Encontra-se entre 0,1 e 0,4% na matéria seca das plantas. É componente de aminoácidos essenciais, de vitaminas, da coenzima-A e das ferredoxinas que ocorrem nos cloroplastos (onde se faz a fotossíntese), intervém na formação de enzimas, etc. Não sendo um constituinte da clorofila, é essencial para a sua formação. É necessário para a microbiologia do solo e para a formação de diversas relações simbióticas com as plantas. Forma compostos voláteis responsáveis pelos aromas e influi na formação de óleos. Controla também o metabolismo do azoto, diminuindo a acumulação de nitratos e amidas (que atraem os insectos que atacam as plantas). O enxofre é fornecido através da fertilização orgânica, da ciclagem dos resíduos vegetais e dos pós de rocha.


Ferro, manganês, zinco, cobre, boro, molibdénio, cloro, sódio, silício, cobalto, almínio, vanádio, selénio, níquel, flúor, bromo, iodo

Neste grupo temos elementos essenciais às plantas, mas em menor quantidade. Assim, por exemplo, o boro é essencial na regulação da transpiração e no vingamento das flores; o molibdénio é essencial para o metabolismo do azoto; o ferro é essencial para a fotossíntese; o manganês, o cobre  e o zinco para os sistemas enzimáticos; o sódio aumenta a fotossíntese, aumentando o teor em açúcares; o cobalto é indispensável aos microrganismos fixadores de azoto, simbióticos ou não, e a muitos outros, no solo.

Os elementos deste grupo, sendo igualmente importantes, são fornecidos geralmente através do composto, de pós de rocha ou da activação da microbiologia do solo.

Por vezes o boro é fornecido por aplicação foliar, em caso de carência comprovada que não se consiga resolver em tempo útil através da intervenção no solo.


Crómio, rubídio, cobre, titânio, bário, estrôncio, zircónio, níquel, arsénio, lítio, chumbo, cádmio, césio, selénio, mercúrio e outros...

Todos eles fazem parte da constituição das plantas, alguns em quantidades muito diminutas, na ordem dos 0,0000001%. Intervêm nos processos de todas ou de algumas plantas e são necessários em quantidades tão diminutas que geralmente são esquecidos. No entanto, em solos onde se faça agricultura há muito tempo, pode haver carência. Esta não é facilmente observável, mas reflete-se no desempenho e no estado sanitário das plantas. O seu fornecimento é assegurado através de incorporação de pós de rochas.


Em forma de conclusão, ainda não são conhecidos todos os nutrientes minerais e orgânicos necessários às plantas, mas não é essencial conhecê-los. O importante é que sejam disponibilizados minerais completos ao solo, sob a forma de pós de rocha, e incentivada a biologia do solo para que estes entrem nos ciclos biológicos e estejam disponíveis para as plantas onde e quando necessários. A nutrição das plantas é essencial, mas depende da nutrição do solo e dos ciclos biológicos nele existentes. O solo actua como o sistema digestivo e imunitário das plantas. A saúde actual e futura das árvores que estamos a formar depende da forma como gerimos o ambiente solo.